ANGÚSTIA


Júlia Telles

A verdade era difícil demais para aceitar. Ela deveria ter tomado essa decisão há meses. Os dias se passavam e a pressão só aumentava. Até quando poderia levar aquela situação? Covarde, suja, egoísta. Sua mente a reprovava. Não podia acreditar um suas próprias ações, duvidada do seu caráter e se perguntava até onde iria para satisfazer seus desejos. Quem é você, questionava a si própria, como se fosse mais de uma. Como se uma cisão interna tivesse sido feita e já não pudesse mais contar consigo mesma. Era sua própria inimiga.

Para alguns poderia ser exagero da sua parte, mas ela nunca se imaginou nessa posição. Todas as músicas tocadas se encaixavam de alguma forma com aquele momento. Estava presa dentro de si mesma, dentro da sua confusão, derretendo aos poucos.

Pela janela do carro, seus olhos procuravam o azul do céu que passava rápido junto à vegetação da serra. Quem sabe assim, olhando fixo para a corrida da natureza, pudesse se ausentar dali. A estrada estava movimentada. Uma viagem interminável. Parecia que nunca chegariam ao destino, mas qual seria esse destino? Ela já não sabia. Tentava disfarçar seus pensamentos, mas eram tão altos que no fundo, de alguma forma, sentia que ele podia escutá-los. Cada olhar vindo dele causava medo. Medo de ser descoberta.

Deu um pulo do banco quando a mão dele tocou a sua. Talvez ele pudesse entrar dentro do seu mundo com o toque e assim saberia.

- Está tudo bem aí amor? – perguntou Bruno interrompendo seus pensamentos, enquanto fazia carinho em sua mão.

- Está sim! Vou trocar o estilo de música. Sertanejo, me dá uma deprê. - disse Marcela, tirando a sua mão da dele, e levando-a em direção ao som.

- Estou ansioso para chegar no chalé. Vamos sair para comer alguma coisa gostosa e depois... - disse ele, olhando de canto de olho com um sorriso - Estou tão feliz por estarmos juntos. Estava com saudades.

Por que ele era tão bom? O amor dele acabava com ela. Não mereço isso. Antes que sua falta de resposta pudesse causar estranheza, ela disse:

- Eu também, meu amor. Vai ser ótimo!

Não seria. Nem pra ela e muito menos para ele. As coisas não iriam se resolver, o tempo deles tinha acabado. Foi tão bom. “Bruno é tão bom e eu tão má”, ela pensava. Não podia fingir mais um dia. Seu coração tinha sido roubado e sua mente também. Entre os pensamentos de remorso, o rosto do Outro aparecia. Ela sentia culpa, mas não podia fugir. “Foi mais forte do que eu”, ela disse a uma amiga confidente.

Dizem que a única forma de encontrarmos a nós mesmos é nos perdendo de vez em quando.


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Júlia Telles

E-mail: juliatelles.adm@gmail.com


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