ABRINDO MÃO


Júlia Telles

Talvez eu tenha esquecido como se escreve. Talvez não, esqueci. Estou a mais de uma hora olhando para a tela, sem sucesso. O nó no estomago, é por conta da constatação de que não nasci para isso, apesar de ter sido incentivada desde a infância. Você escreve bem, diziam eles. Como qualquer criança que ainda não tem entendimento nenhum sobre si mesma, acreditei. Me inscrevi para um curso de escrita, afim de desenvolver mais essa habilidade não pertencente a mim.

Não estou me fazendo de coitada, só estou desanimada mesmo. Crise existencial seria um bom termo para representar minha situação atual. Sonhava em ser escritora, mas abandonei isso por alguns anos. Parei de escrever, de ler e o máximo que fazia era alguma rima de música, vez ou outra. A gente vai deixando pra trás o que gosta, para fazer o que precisa. Gostar não significa ser boa e é frustrante perceber.

Tudo isso está me parecendo mais uma confissão do qualquer outra coisa. Então vamos lá, a verdade é: Não me dedico o suficiente. O resultado disso são horas tentando escrever uma mísera página. Deveria ler mais, olhar mais para dentro, observar as pequenas e boas coisas da vida e parar de querer controlar tudo a minha volta.

Controle! Pronto, é esse o problema. Quero controlar tudo ao meu redor e acabo com a liberdade. Estou presa a regras criadas e impostas a mim, por mim. Talvez eu realmente não escreva maravilhosamente bem e sabe de uma coisa? Não preciso. Afinal, quem assumiu essa personagem foi eu há muito tempo e simplesmente posso deixá-la no camarim da vida, junto às outras personagens. Cantora, atriz e pianista, terão agora uma nova companhia, a escritora.

Desistir é libertador, porque te dá a oportunidade de tentar de novo.

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Júlia Telles

E-mail: juliatelles.adm@gmail.com


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